sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A frescura nossa de cada dia. Por Juliana Doretto

Moro num prédio típico de Lisboa: bastante antigo, com estilo que no Brasil chamamos de colonial (janelas retangulares, com bordas pintadas de uma cor contrastante e sacadinhas), sem elevador e com muitos moradores velhos (ou “velhotes”, como se diz, carinhosamente, em terras lusas). Meu apartamento, o menor de todos, fica parcialmente no subsolo, logo ao lado da porta principal: é o que eles chamam de “cave”. Pelas paredes, ouço o movimento dos vizinhos: o grande cachorro que desce a escada descontroladamente; as vizinhas que papeiam no andar de cima; o senhor de chapéu que sai para fazer compras no mercado todas as manhãs... Mas, de todos esses companheiros, a de que mais gosto é dona Esmeralda – e suas deliciosas frescuras.
Todos os dias, de segunda a sexta, para em frente à minha janela uma “van” da Santa Casa de Misericórdia, cheia de velhotes. Sai de lá uma mulher de 40 e muitos anos. Assistente social, provavelmente. E toca a campainha. Muitos minutos depois, escuto passos: vagarosos, sofridos. A respiração completamente ofegante (imagine alguém tendo uma crise de asma...). As mãos apoiando-se no corrimão com muita força. E, sempre que os passos silenciam, a suposta assistente social diz algo como:
- E a minha princesa, como está?
E então vêm as respostas que me alegram todas as manhãs. Apesar de descer as escadas toda arrumadinha, enfrentando suas visíveis dificuldades de locomoção, dona Esmeralda nunca quer embarcar na van. Os problemas se multiplicam. Há um novo, a cada dia:
- Doem-me as costas e os joelhos... Não tinha vontade nem de me levantar...
- Dói-me a coluna. Mal consigo andar...
- Não dormi nada essa noite...
- Há oito dias não vou à casa de banho [banheiro]. Hoje não quero almoçar...
- Há dez dias não vou à casa de banho. (!) Quero ir ao hospital...
E a mulher que a aguarda, com maestria, sempre responde às reclamações de dona Esmeralda:
- Dói a nós todos. Se não andar é pior!
- Se ficar em casa dói ainda mais...
- Depois do almoço a senhora dorme um pouco...
- Mas hoje é bacalhau com natas! É muito bom!
- Já tomou as gotas? Tem de tomar à noite, para a senhora fazer de manhã...
Imagino que dona Esmeralda viva sozinha e, com os demais “velhotes” da van, passe o dia num centro social – o carro volta impreterivelmente às 16h30, deixando-a à porta do prédio.
Um dia, nervosa com um trabalho que não chegava ao fim, irritei-me com as reclamações, e desabafei online: “Dona Esmeralda: para de frescura e entra logo nessa perua da Santa Casa! A senhora vai todo dia mesmo!”. Ao que uma amiga respondeu: “Mas a frescura é o melhor do dia, é o élan da vida”...
Dona Esmeralda precisa de seus cinco minutos de frescura diária, e da atenção da assistente social. Todos nós precisamos. Velhotes, temos as dores e outros desconfortos físicos. Crianças, temos o choro, e atenção imediata da mãe. Adolescentes, temos nossas crises existenciais cotidianas e a cumplicidade dos amigos da mesma idade. Adultos, temos às vezes dores, às vezes choro, às vezes crises existenciais... Todos precisamos nos sentir queridos. Todos precisamos saber que os outros se importam conosco. Pode falar da dor nas costas, dona Esmeralda. Se um dia eu tomar coragem e for falar com a senhora, lhe conto sobre as minhas outras tantas dores.
Texto originalmente publicado em http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2014/01/bfrescura-nossab-de-cada-dia-por-juliana-doretto.html

sábado, 25 de janeiro de 2014

The curious case of Marisa Serrenho

É sobejamente conhecido o axioma de que a idade é uma questão de estado de espírito. No meu caso, quanto mais os anos passam, mais nova eu fico. Um fenómeno semelhante ao do filme “The curious case of Benjamin Button”, no qual a personagem interpretada por Brad Pitt, vai ficando fisicamente mais novo ao longo dos anos. Mas, calma, embora eu não aparente ter os meus 31 anos, não estou a querer dizer que poderão aguardar ver-me a ser passeada por Lisboa no carrinho de bebé da Laurinha. O que sucede é que eu despertei tarde para a vida.
Por vicissitudes que um dia explicarei na minha biografia, a ser escrita pelo José Rodrigues dos Santos (é uma ideia!), vivi um quarto de século em abnegação. Fiz um voto voluntário de obediência aos meus pais e entrei na reclusão da vida dedicada à formação académica com a promessa (vã) de que me levaria a uma carreira através da qual me pudesse sentir realizada enquanto ser humano.
Um dia, houve um jovem que se interessou por mim e eu comecei a pensar que poderia haver outro rumo para a minha vida, mas quando o sonho de casamento estava em vias de se tornar realidade, assustei-me e vim para Lisboa. Apercebi-me de que ainda não tinha vivido e que não queria trocar uma forma de reclusão, pela outra, e a obediência aos meus pais, pela dedicação a um marido.
Os meus pais nunca me proibiram de sair à noite com os meus colegas de escola, mas eu sabia que não iriam dormir enquanto eu não chegasse a casa e isso pesava-me na consciência. O mesmo se passava quando eu comecei a trabalhar por turnos. Não sei se por ser a mais nova, mas o meu bem-estar sempre foi motivo de ansiedade para os meus pais, algo que me deixa enternecida (e vaidosa, confesso), porém ao mesmo tempo, incómoda.
Em Lisboa tenho seguido a formação académica (da qual não consigo desistir, apesar do esforço e das desilusões), mas o principal objetivo da minha vinda foi angariar experiências e recordações. Sempre me divertia quando vinha visitar a minha irmã e o meu cunhado, depois fiz novos amigos na Universidade e recuperei velhas amizades, com as quais o destino me fez novamente cruzar caminho. Comecei com noitadas com a minha irmã, depois jantaradas com os colegas, cinema, teatro e discotecas com as amigas e, no ano passado, fui ao meu primeiro grande concerto (Bruno Mars). Este ano já comprei o bilhete para o Rock in Rio Lisboa, quero ver se consigo alguém que me leve a andar de mota e quero ir à Serra da Estrela ver neve.
Ontem foi o jantar de turma da Restart. A maioria dos meus colegas tem vinte e poucos anos, mas têm mais experiência de vida (e maturidade, confesso) do que eu. Junto dos meus colegas sinto-me mais jovem e isso transparece igualmente no exterior, até porque mudei o meu visual: cortei o cabelo e uso roupas mais descontraídas e despretensiosas. Ninguém me assinala no grupo como sendo a mais velha. Eles são super divertidos e eu aprendo muito com eles. Só me lembrei que tinha 31 anos, quando chegou a hora de irmos para casa e eu senti-me na obrigação de garantir que tinham boleia.

Eventualmente, quero reencontrar-me com a minha geração e traçar o caminho que conduza aos três grandes “C”s: Carreira, Casa e Casamento. Até lá, ainda gostaria de primeiro aprender a andar de bicicleta.  

domingo, 19 de janeiro de 2014

Farinha do mesmo saco?

Ter uma conversa através de texto com alguém é sempre complicado porque nos falta dar a entoação certa. É muito fácil sermos mal interpretados. Certo dia “teclava” com um amigo e fiz-lhe um comentário que deveria ser interpretado como humorístico, mas foi tomado como uma crítica. É certo que já não o via há muitos anos antes de retomarmos o contacto e que o meu sentido de humor apurou-se desde a infância, mas a maneira como se defendeu no assunto em questão, leva-me a acrescentar outro factor à falha de comunicação: o género.
Se tivesse sido um amigo homem a fazer o comentário, talvez fosse interpretado como piada, mas sendo uma mulher, só poderia ser uma de duas coisas: uma crítica ou uma cobrança. Nem todas as mulheres são iguais. Para além de loiras, ruivas ou morenas, também nos diferenciamos no feitio. Há as que são mais tranquilas, agressivas ou indiferentes. Não somos todas farinha do mesmo saco.
Quem me conhece sabe que sou uma pessoa calma que detesta conflitos e prefere ficar calada a dizer uma parvoíce. Fico um pouco magoada em ser o alvo de generalizações com base em más experiências vividas ou transmitidas de amigo para amigo, ou estereótipos popularizados pelos media.
Sempre me pautei pela máxima “não faças aos outros aquilo que não gostarias que fizessem a ti”. Se quero paz e bom astral para mim, não vou procurar discussões e provocar a perturbação de outros.

Também já tive os meus dissabores e desilusões, mas o que aprendi sobre o ser humano, e recorrendo a outra metáfora também popular, é que as pessoas são como as cebolas: têm várias camadas, e, assim como as cebolas, muitas fazem-nos chorar, mas nem todas ...

sábado, 18 de janeiro de 2014

Charme inato


É um facto que as crianças têm o poder de nos derreter o coração, ou não fossem, juntamente com os gatinhos, o tema de muitos posts e vídeos comoventes nas redes sociais, porém há uma criança em particular que me reduz a água, qual boneco de neve no deserto do Saara: a minha sobrinha Laura.
Não sou a mesma pessoa desde que me tornei tia. À primeira visão daquelas bochechas, apaixonei-me por ela, e a vida ganhou outra cor. É um privilégio acompanhar o seu crescimento e ver a sua personalidade desabrochar. Já dá para ver que vai ter o feitio da mãe, até porque nasceram sobre o mesmo signo do zodíaco (caranguejo), mas espero que os genes do pai sirvam de contrabalanço. Tem uns olhos muito expressivos e um sorriso que desarma a pessoa mais rabugenta.
Recordo a primeira vez em que me chamou tia. Senti que a minha vida ganhava outro significado e que eu teria outra função a acrescentar no meu currículo: tia da Laura. Quero ser um bom exemplo para a minha sobrinha.
Tento ajudar na educação da Laura como posso e sei, sendo disciplinadora quando é preciso, brincando com ela nas horas certas, mas às vezes não resisto ao seu charme e cometo uma infração. Como é comum nas crianças da sua idade, adora mexer onde não deve. Já sei que quando estou na cozinha e deixo de ouvir barulho na sala, ela está a fazer alguma asneira. Dirijo-me à sala e encontro-a a brincar com o comando da TV. “Laura, isso é do papá e da mamã”. Ela olha para mim, primeiro com uma expressão “ups, fui apanhada” e depois sorri “perdoa-me que eu sou fofinha”. Tiro-lhe o comando das mãos, mas não resisto a dar-lhe um abraço e um beijo repenicado. Noutra ocasião, estamos a assistir TV e ela vai até à estante e começa a tirar os livros e DVDs e a colocá-los no chão. “Laura, não mexas aí.” Ela parece acatar e volta para os seus brinquedos, mas no instante a seguir, dou com ela a olhar para a mãe e a estender a mão para os DVDs. “Será que consigo tirar um sem a mamã perceber?”, parece estar a pensar. Eu repreendo-a, mas a suster o riso. Ela faz um sorriso maroto e vem abraçar-me, eu derreto.

As crianças dominam a inteligência emocional e a Laurinha faz de mim gato-sapato. Os pais e eu podemos estar a jantar ou ver um filme, e ela querer brincar no carrinho ou ver fotos dela mesma no PC, que já sabe a quem pode sempre recorrer. Chega-se ao pé de mim, estende-me a mão e diz “Anda!”, e lá vou eu, guiada por ela, e empurro o carrinho e mostro-lhe as fotos no PC, e vou buscar a bola ou apanhar o balão, e ando com ela às cavalitas e … Ufa! É uma azáfama, mas adoro cada momento que partilho com ela.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A osga

Estou a comemorar um aniversário muito especial. Faz um ano que moro sozinha.
Sai tarde de casa dos meus pais. Tinha 28 anos quando vim morar com a minha irmã e querido cunhado (fica sempre bem dar-lhe uma graxinha!) em Lisboa. Morar mesmo sem partilhar casa de banho, só veio a acontecer aos 30 anos. As circunstâncias não foram as melhores e tive de escolher a primeira casa que me apareceu na área que eu pretendia, contando com a ajuda da minha irmã e da sua sogra para o recheio (qual IKEA, qual quê!).
Um ano depois, encontro-me noutra casa, com mais um quarto e menos de renda, sempre próxima da minha Laurinha, que me surpreende e prende mais a cada dia, e bastante confortável na minha solidão (no sentido de morar sozinha), até ao dia em que ela apareceu … A osga!
Estava eu, num fim-de-semana destes, toda contente a arrumar a minha casinha, quando dou de caras com uma osga na cozinha. Gritei e fugi para a sala. Com o coração aos pulos, avancei novamente para a cozinha, e da porta espreitei, lá estava ela, gorda, parada, altiva. Corri novamente para a sala e telefonei para a minha irmã. O meu cunhado estava a dormir e eu tinha era de arranjar coragem para matar o bicho que “não faz mal a ninguém” (a não ser provocando um ataque cardíaco!). Fui novamente espreitar, e desta vez ela mexeu-se. Eu gritei novamente. Decidi que tinha de a matar antes que ela se escondesse nalgum sítio e depois seria o caos para descobri-la. Peguei numa colher de pau e avancei sobre ela. Aos gritos, desferi sobre a criatura uma série de golpes, e só parei quando tive a certeza de que não se mexia.
Duas coisas me espantaram nesta situação. A primeira, o raio de vizinhos que eu tenho, que ao me ouvirem gritar, não me vieram acudir. A segunda, a minha coragem. Mas não fui capaz de encerrar o caso sozinha. Decidi aguardar até o meu cunhado acordar para ele vir remover o corpo. Tentei, mas não fui capaz. Refugiei-me no quarto e liguei novamente à minha irmã. De vez em quando ia certificar-me de que a osga permanecia morta.
Algum tempo depois, chegou o meu cunhado. Apontei-lhe o corpo e ele concordou comigo de que era grande, embora na minha percepção, fosse sempre maior, um mini-crocodilo. Depois o meu cunhado comentou que eu não matei simplesmente a osga, mas que a desventrei, que quase parecia o cenário de um filme de terror. De facto, a minha raiva para com aquela osga era muita, pois foi perturbar a paz e conforto que eu tinha adquirido no apartamento que eu já considerava o meu lar.
Quando contei a história para a Juliana, ela respondeu-me que faz parte da experiência de se morar sozinho, e parecia estar a parabenizar-me por ter passado por um ritual de iniciação: agora sim, sou uma mulher independente, matadora de osgas. Visto por esse prisma, foi uma experiência positiva, mas pela qual não quero passar novamente.

Dias depois, contei a história num jantar de amigos e um amigo contou-me como a mulher o chamou a casa para matar uma osga que estava na varanda. Veio-me outra ideia à cabeça. Foi para isto que Deus criou o homem, e o casamento. Por mais independente que eu queira ser, lamento mas não consigo mudar pneus, montar móveis do IKEA ou matar osgas. Mas enquanto não tenho o meu próprio cavaleiro matador de dragões, vou-me safando com o meu cunhadinho, a quem agradeço ter vindo ao meu auxílio, apesar das posteriores piadinhas. E sinceramente, já estou a habituar-me a morar sozinha, a não ter que esperar para usar a casa de banho, não ter horas para tomar refeições ou para chegar em casa, ou não ter de lutar pelo comando da TV. Vou ter é de comprar outra colher de pau ...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A epidemia dos parquímetros

Hoje fui acompanhar o doce mais doce à consulta dos 18 meses e naquela zona de Lisboa não havia parquímetros, até recentemente. Eu lembro-me que, por vezes, deixava lá o carro e apanhava o metro para o centro de Lisboa. Era uma zona concorrida por isso, sendo que era preciso ir cedo para conseguir lugar, o que não escapou ao radar da EMEL.
Antes de vir para Lisboa, tinha apenas uma multa por estacionamento, resultado de uma infracção indispensável, pois no instituto onde estava a frequentar o curso de mestrado havia poucos lugares para os carros dos alunos. Na minha ingenuidade cheguei a apresentar-me na esquadra local da GNR e perguntar como deveria proceder. Os oficiais riram-se e disseram que eu tinha apenas de ir a um Multibanco e pagar a multa.
Em Lisboa, também por absoluta necessidade devido à falta de lugares junto a um estabelecimento de ensino no Campo Grande, incorri em, pelo menos, mais 3 infrações às regras de estacionamento, sendo que em uma ocasião cheguei a encontrar o carro bloqueado e noutra, eu estava com problemas no meu velho Fiesta e tive de parar no primeiro lugar que vi, tendo sido fui multada enquanto fui chamar o reboque, mas nenhum argumento foi válido para os gélidos corações da EMEL.
Infelizmente, a epidemia está a alastrar-se para fora de Lisboa. Em Loures, estava eu na fila para solicitar o subsídio de desemprego na Segurança Social, quando vim cá fora respirar um pouco, e vislumbrei ao longe o meu carro a ser levado num reboque. Corri, gesticulei, gritei, e lá pararam o reboque. Onde eu estacionara é uma zona paga. Solicitaram-me o pagamento imediato de 113 euros para recuperar o meu carro. Eu tentei apelar à compaixão dos fiscais, explicando o motivo da minha deslocação a Loures, zona que desconhecia, mas em vão. Paguei, com as lágrimas as escorreram-me pelo rosto. Até o senhor do reboque ficou com pena de mim!
Só quero saber é para onde vai todo esse dinheiro … Certamente para os bolsos de alguns boys que arranjaram jobs agora nestas empresas municipais. E não estarão a prejudicar o comércio tradicional e os hotéis sem garagem privada?! Se fosse para gerir o trânsito no centro das cidades, incitando as pessoas a deixar o carro em casa, deveriam proporcionar melhores alternativas nos transportes públicos, ainda que o serviço aqui seja melhor do que no Algarve, mas quem tem andado de metro e autocarro nos últimos tempos, não deixa de se sentir como uma sardinha em lata, para não falar das greves.

Será que ainda vou a tempo de aprender a andar de bicicleta?! Agora, até têm prioridade nas rotundas.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A peúga


No ano passado, às vésperas do Natal, terminara um relacionamento. Como por essa altura já todos os planos de comemoração estavam feitos, e como não quis fazer alterações de última hora, celebrei a passagem do ano com um grupo de casais amigos, num apartamento. Escuso de dizer que o champagne teve um gosto um pouco amargo, que nem as passas adocicaram, pois ao final das doze badaladas não tinha um mais-que-tudo para dar o primeiro beijo de 2013. Assim seria durante o resto do ano.
Para esta passagem de ano decidi celebrar num sítio cheio de gente desconhecida, e lancei o desafio a uma amiga minha, para quem 2013 também foi tudo, menos romântico.
Como a minha amiga mora fora de Lisboa, ficou em minha casa, e como não nos tínhamos visto no Natal, assim que ela chegou, trocámos os presentes. Contámos até três e abrimos ao mesmo tempo. Foi a risada total! Estávamos a oferecer exatamente a mesma coisa uma à outra … um par de peúgas grossas. Afinal de contas temos o mesmo problema neste Inverno, ninguém para nos aquecer os pés. Rimos mais um bocado, eu falei-lhe também na minha nova botija de água quente elétrica (muito prática, recomendo!), e ela na companhia que tem de quatro patas.
No dia 31, lá fomos nós, giraças, para o Casino de Lisboa. Tivemos a sorte de calhar numa mesa perto de uma família muito bem-disposta, e o pessoal ao serviço também foi muito atencioso connosco. Comemos, bebemos e dançámos descontraidamente pela noite fora.
À meia-noite a confusão era tanta para percebermos na sala se já estava na hora, que demos as boas-vindas a 2014 duas vezes. Houve balões, serpentinas e confettis, viu-se o fogo-de-artifício na Expo, e assim entrámos em 2014, preenchendo o vazio de paixão, com a adrenalina da euforia festiva e a esperança no novo ano.
De madrugada, regressámos a casa - numa viagem de táxi periclitante, que nos fez questionar se teria sido a melhor opção. Exaustas, fomos dormir. De novo só no meu quartinho, recarreguei a minha botija de água quente, que coloquei a meus pés, e adormeci reconfortada na conquista que fizera: entro em 2014 uma mulher auto-suficiente e segura de si.


Bom Ano Novo!